martes, 22 de marzo de 2016

Antropólogos usam arquivo de sanatório algarvio para estudo sobre tuberculose

Dois antropólogos da Universidade de Coimbra têm recorrido ao arquivo do antigo Sanatório de São Brás de Alportel, um dos poucos preservados a nível internacional, para estudar lesões ósseas provocadas pela tuberculose antes da utilização dos antibióticos.

A tuberculose, existente pelo menos desde o período neolítico e apontada como doença extremamente letal até à descoberta dos antibióticos, continua a ser difícil de identificar durante o estudo de esqueletos humanos de outras épocas, disse à Lusa a investigadora Ana Luísa Santos, da Universidade de Coimbra.

“Quando estudamos esqueletos não temos evidências dos pulmões, mas os pulmões estão envolvidos pela caixa torácica e as costelas aparentemente têm algumas lesões que podem ser relacionadas com a tuberculose pulmonar”, observou a investigadora.

O trabalho é desenvolvido em parceria com Vitor Matos, que sublinhou a importância da consulta do arquivo do antigo sanatório: “É material que muito pouca gente tem a sorte de conseguir estudar e, nesse sentido, obviamente que os nossos colegas mostram sempre bastante interesse nesse tipo de materiais”.

A empresa de caminhos-de-ferro portugueses foi a responsável pela construção do Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, inaugurado em setembro de 1918.

Foi o primeiro sanatório nacional privado, que servia exclusivamente os funcionários da empresa afetados com doenças do foro respiratório, em particular a tuberculose.

Os dois investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra contam com dois trabalhos publicados a nível internacional em que se debruçam sobre o perfil dos doentes, a hospitalização, o tipo de tuberculose, as perdas de peso e a recuperação.

“Os trabalhos seguintes vão focar-se na localização das lesões precisamente para tentarmos perceber se a localização daquelas lesões que nós verificámos nos esqueletos coincidem com a localização descrita pelos médicos” e pelos registos existentes no arquivo, explicou Ana Luísa Santos.

O arquivo reporta-se ao período entre 1918 e 1993, em que aquela unidade de saúde passou por algumas mudanças, como por exemplo a criação de uma ala para doentes do sexo feminino e a transição para o Serviço Nacional de Saúde.

Após o seu encerramento em 2002 e antes da sua transformação no Centro de Medicina de Reabilitação do Sul, o edifício foi esvaziado e Cristina Fé Santos, que acompanhou o processo, contou à Lusa que encontrou os arquivos quase esquecidos, em sacos de plástico, numa divisão.

Entre 2006 e 2007, a direção do Hospital de Faro decidiu incorporar o arquivo no arquivo geral do hospital, tornando-se num registo quase único a nível internacional explicou Cristina Fé Santos, autora do livro "Sanatório Carlos Vasconcelos Porto - Sanatório de uma empresa".

“Não é só a questão da curiosidade e de dar a conhecer, é também a questão de manter e preservar para que outros possam utilizar os documentos para futuros estudos nas mais várias linhas de investigação”, afirmou Cristina Fé Santos.

A diretora do Serviço de Gestão Documental, Marisa Caxias, explicou à Lusa que o projeto de recuperação, tratamento e organização arquivística ainda está numa fase embrionária e não está “devidamente tratado e identificado pelo que o seu eventual interesse histórico, ou outro, apenas se pode alvitrar dada a sua data de produção”.

Segundo a responsável importa estabelecer critérios de reutilização da informação, confidencialidade e restrições de acesso com base em diretivas legais e pareceres das entidades competentes.

O projeto foi recentemente submetido à apreciação da administração do Centro Hospitalar do Algarve, da Secretaria Geral do Ministério da Saúde, da Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da Comissão Nacional de Proteção de Dados e da Ordem dos Médicos - Secção Sul.

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