Dois antropólogos da Universidade de Coimbra têm recorrido ao arquivo do antigo Sanatório de São Brás de Alportel, um dos poucos preservados a nível internacional, para estudar lesões ósseas provocadas pela tuberculose antes da utilização dos antibióticos.
A tuberculose, existente pelo menos desde o período neolítico e apontada como doença extremamente letal até à descoberta dos antibióticos, continua a ser difícil de identificar durante o estudo de esqueletos humanos de outras épocas, disse à Lusa a investigadora Ana Luísa Santos, da Universidade de Coimbra. “Quando estudamos esqueletos não temos evidências dos pulmões, mas os pulmões estão envolvidos pela caixa torácica e as costelas aparentemente têm algumas lesões que podem ser relacionadas com a tuberculose pulmonar”, observou a investigadora. O trabalho é desenvolvido em parceria com Vitor Matos, que sublinhou a importância da consulta do arquivo do antigo sanatório: “É material que muito pouca gente tem a sorte de conseguir estudar e, nesse sentido, obviamente que os nossos colegas mostram sempre bastante interesse nesse tipo de materiais”. A empresa de caminhos-de-ferro portugueses foi a responsável pela construção do Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, inaugurado em setembro de 1918. Foi o primeiro sanatório nacional privado, que servia exclusivamente os funcionários da empresa afetados com doenças do foro respiratório, em particular a tuberculose. Os dois investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra contam com dois trabalhos publicados a nível internacional em que se debruçam sobre o perfil dos doentes, a hospitalização, o tipo de tuberculose, as perdas de peso e a recuperação. “Os trabalhos seguintes vão focar-se na localização das lesões precisamente para tentarmos perceber se a localização daquelas lesões que nós verificámos nos esqueletos coincidem com a localização descrita pelos médicos” e pelos registos existentes no arquivo, explicou Ana Luísa Santos. O arquivo reporta-se ao período entre 1918 e 1993, em que aquela unidade de saúde passou por algumas mudanças, como por exemplo a criação de uma ala para doentes do sexo feminino e a transição para o Serviço Nacional de Saúde. Após o seu encerramento em 2002 e antes da sua transformação no Centro de Medicina de Reabilitação do Sul, o edifício foi esvaziado e Cristina Fé Santos, que acompanhou o processo, contou à Lusa que encontrou os arquivos quase esquecidos, em sacos de plástico, numa divisão. Entre 2006 e 2007, a direção do Hospital de Faro decidiu incorporar o arquivo no arquivo geral do hospital, tornando-se num registo quase único a nível internacional explicou Cristina Fé Santos, autora do livro "Sanatório Carlos Vasconcelos Porto - Sanatório de uma empresa". “Não é só a questão da curiosidade e de dar a conhecer, é também a questão de manter e preservar para que outros possam utilizar os documentos para futuros estudos nas mais várias linhas de investigação”, afirmou Cristina Fé Santos. A diretora do Serviço de Gestão Documental, Marisa Caxias, explicou à Lusa que o projeto de recuperação, tratamento e organização arquivística ainda está numa fase embrionária e não está “devidamente tratado e identificado pelo que o seu eventual interesse histórico, ou outro, apenas se pode alvitrar dada a sua data de produção”. Segundo a responsável importa estabelecer critérios de reutilização da informação, confidencialidade e restrições de acesso com base em diretivas legais e pareceres das entidades competentes. O projeto foi recentemente submetido à apreciação da administração do Centro Hospitalar do Algarve, da Secretaria Geral do Ministério da Saúde, da Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da Comissão Nacional de Proteção de Dados e da Ordem dos Médicos - Secção Sul. |
PRIMER OBSERVATORIO DE ARCHIVÍSTICA Y ARCHIVOS (UC3M)
martes, 22 de marzo de 2016
Antropólogos usam arquivo de sanatório algarvio para estudo sobre tuberculose
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